Liderança em RH

Autora: Tatiana Porto

(8 minutos de leitura)


Relacionar-se com pessoas é algo enriquecedor, pois nos permite aprender pode meio da troca de experiência, mas também bastante desafiador, considerando que cada pessoa é um universo único, com seus próprios valores, expectativas, cicatrizes e êxitos.

No mundo corporativo o contexto não é muito diferente. Liderar pessoas é uma tarefa recompensadora, pois, como líderes, podemos impactar a vida de pessoas, seja por meio de conversas sobre carreira profissional, feedbacks constantes e genuínos ou mentoring.  

Em setembro de 2021 recebi a seguinte mensagem no WhatsApp de uma profissional com a qual eu trabalhei entre 2013 e 2015: “Gostaria de compartilhar uma conquista muito importante na minha vida e você faz muito parte dela. Fui promovida... Hoje tenho um time lindo que coordeno e uso muitos ensinamentos que aprendi com você... Você transformou a minha vida quando me deu um sim”. Para mim, não há maior reconhecimento que um líder pode receber do que depoimentos espontâneos como este!

Contudo, gerir pessoas não é uma tarefa fácil, e pode-se dizer que a pandemia trouxe desafios adicionais a quem opta por exercer liderança. De acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, um dos mais amplos inquéritos de saúde do Brasil, 11,3% dos brasileiros relataram ter recebido diagnóstico médico de depressão, sendo a frequência muito maior em mulheres do que em homens (14,7% x 7,3%). Os índices de diagnóstico de depressão apresentados pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo IBGE de 2019 e 2013 são 10,2% e 7,6%, respectivamente.

Além disso, a pandemia fez com que houvesse um aumento do esgotamento profissional, síndrome esta também conhecida por Síndrome de Burnout. Segundo o psicólogo clínico e professor Marcelo Santos, a nova realidade fez com que as pessoas trabalhassem mais, além do seu expediente, para dar conta dos deveres. Apesar do ganho em diminuição do tempo em locomoção, o ambiente de descanso se transformou no espaço de trabalho diário, causando certa confusão.

E qual é o papel do líder neste contexto? Em um estudo recente realizado por profissionais da NTT DATA Brasil sobre os Profissionais do Futuro, verificou-se que a sensibilidade emocional passa a ser um fator chave na esfera dos relacionamentos interpessoais. Cada vez mais os profissionais esperam que seus líderes sejam empáticos, sendo capaz de captar e assimilar os diferentes sentimentos dos liderados e saber lidar com eles. 

O líder deve conhecer individualmente a cada profissional da equipe, tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal. Nas interações diárias com as pessoas, não basta fazer somente um cumprimento padrão como “bom dia, tudo bem?”. A liderança precisa interagir com cada membro do seu time de maneira personalizada, conhecendo a sua história, seus principais motivadores, seu momento atual de vida, suas expectativas profissionais, direcionando a conversa para o que faz sentido para aquele colaborador.

Demonstrar preocupação genuína com o estado emocional da equipe, aplicando a escuta ativa, e não somente falar de temas de trabalho é uma atitude essencial para os líderes nos dias de hoje.  Trata-se de uma tarefa fácil? Certamente não, e um dos grandes desafios das organizações será ajudar a liderança a desenvolver esta empatia, bem como sua inteligência emocional.

Outro aspecto apontado pelo estudo é que existe a expectativa de que o líder reforce e dê o exemplo sobre a importância do aprender, seja flexível para escutar críticas, se adaptar e se comunicar. A obsolescência de conhecimento técnico, ou o tão conhecido “hard skill”, principalmente na área de tecnologia, está cada vez mais acelerada, fazendo com que o aprendizado constante – o famoso Lifelong Learning – seja essencial no mundo corporativo. Os profissionais que não estiverem abertos a pensar de maneira diferente, a enxergar novas perspectivas, e a desaprender e reaprender, estão fadados a perder a empregabilidade, e cabe ao líder não somente incentivar o aprendizado contínuo, mas exercê-lo no dia a dia. 

Em adicional, nessa linha, as “power skills” (habilidades de poder) se tornam a grande tendência para 2022. Anteriormente o termo usado era soft skills, que são habilidades comportamentais que não podem ser validadas via certificação, e a mudança de nome se deve à inadequação da palavra soft (leve), pois sugere que são habilidades fáceis de se alcançar. 

Entre as tendências de power skills estão comunicação, proatividade e autogestão e, sem elas, dificilmente um profissional se adaptará a esta nova realidade onde o aprendizado constante é necessário. Mais um ponto importante para a liderança, com o devido suporte das organizações: o estímulo ao desenvolvimento das competências comportamentais e não somente técnicas. 

Resumindo, o estudo da NTT DATA Brasil sobre os Profissionais do Futuro revela que o que se espera do líder do futuro é que ele trabalhe junto, gerando mais conexão e inspiração, entendendo a diversidade de comportamentos da sua equipe para poder trabalhar o lado humano dos seus colaboradores.

Liderança inclusiva também está cada vez mais em evidência. De acordo com Suelen Schneider, especialista em liderança, estratégias e operações, um líder inclusivo é capaz de reconhecer o outro como ele é, sem julgamentos, filtros ou preconceitos. Busca a equidade e não a igualdade, conversa com seus liderados de forma honesta e respeitosa, trabalhando juntos em iniciativas que beneficiem a todos. Mais do que liderar, o que se nota é o exercício de uma grande parceria.

Os traços do líder inclusivo são autenticidade, curiosidade, autoconfiança, resiliência emocional e flexibilidade. Possui uma comunicação clara e efetiva, integra diversas perspectivas, considerando pontos de vistas opostos, navega bem em situações conflituosas, otimiza o talento da equipe, suportando seu crescimento, cria mentalidade e abordagem adaptáveis e promove transformações.

E qual é a melhor maneira que um líder tem para desenvolver todas estas habilidades mencionadas ao longo deste texto? É claro que leitura de livros, treinamentos, processos de mentoring e coaching são ferramentas que muito contribuem para o desenvolvimento de competências atitudinais, mas o grande impulsionador das power skills é o autoconhecimento. Quanto mais um gestor conseguir investir em seu autoconhecimento, mais efetiva será a prática da liderança. 

Saber identificar seus pontos fortes, suas fragilidades e vieses, o que reabre suas cicatrizes e ativa seus instintos mais impulsivos proporciona uma vantagem estratégica para estabelecer mudanças, novos hábitos e perceber características que são pessoais e aquelas que devem ser atribuídas aos outros. É como dizem: 
Quanto melhor conseguir ser líder de si mesmo, mais facilmente conseguirá liderar outras pessoas.


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Referências:
Mercado de trabalho do futuro: quais as expectativas para os próximos anos? | NTT DATA
Profissionais do Futuro | NTT DATA (insightsforthefuture.com)

Autora: Tatiana Barrocal Porto é Head de People da NTT DATA Brasil. Com +20 anos de experiência em RH, já passou por diversas funções dentro da área e já atuou em empresas como Cognizant e Accenture. Tatiana foi escolhida em 2022 como uma das 3 mais importantes executivas de RH do ano pela IT Media na categoria Talentos – CMO & Líder de vendas (LinkedIn)

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